EUROVISÃO: Há uma primeira vez para tudo! Créditos da imagem: NPO/AVROTROS/NOS
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Após 64 edições anuais continuamente, pela primeira vez o Festival Eurovisão da Canção foi
cancelado.

O Festival Eurovisão da Canção é indissociável com a própria evolução da humanidade, com a
passagem das décadas, a viragem para um novo século. São mais de 60 anos de historial legado.
Todos que estiveram na sua génese há 64 anos, certamente viriam nessa altura como uma
miragem, quiçá improvável, que aquele festival de 1956 continuasse ininterruptamente durante
todos esses anos, adaptando-se e gerando uma outra dimensão de concurso. Que por mais
controvérsias, a sua génese primordial vigorasse, fazendo juntar nações diferentes através da
música.

No entanto, hoje o Festival da Eurovisão é mais que um concurso de músicas, é um show de
efeitos especiais, de imagem, som, luz, pirotecnia… é um certame que move massas, conjunto
de fãs por todo o lado, uma organização de concretização gigantesca, e também dinheiro,
política…

Passou para a TV a cores, mais tarde para o digital com a internet e com a transmissão em Alta
Definição. Ao início apenas em pequenos estúdios até culminar em arenas sendo visto ao vivo
por milhares e muitos mais aos milhões pela televisão. Chegou a atravessar continentes e até a
Austrália participa. Próprio dos nossos tempos, pois seria impensável, nem claro existiriam os
meios que hoje se dispõem, para que deixasse de ser uma mera competição de alguns países
somente com enfoque na música, cantor, letrista, compositor, com orquestra e com a avaliação
de jurados especialistas.

O impensável trazido para os dias de hoje é o seu cancelamento. Talvez por apenas se olhar para
o espetro político. Este sempre pairou sobre cancelamentos. O Festival ‘assistiu’ a uma Europa
dividida pós-guerra, à própria Guerra Fria e à queda do muro de Berlim. A desagregação da
Jugoslávia trouxe mais nações e novos países ao certame. A incorporação de mais países de
Leste com o fim da União Soviética. O favorecimento na votação em blocos e com o televoto, e
a queda de interesse dos principais ‘pesos pesados’ (como a retirada da Itália por vários anos).
Cada vez maior número de participantes refez repensar todo o concurso no início do século com
a introdução de semifinais. Várias ‘espécies de guerrilhas’ entre países, ameaças de boicote,
implosão de comprimentos dos direitos humanos em países organizadores ou questões de
logística e ter tudo pronto a tempo…

E o tempo avançou e trouxe uma primeira vez para o Festival Eurovisão da Canção. Há uma
primeira vez para tudo! Por um imperativo maior que tudo… A saúde! Foi cancelado devido a
uma pandemia. Ninguém nem nada o faria prever, e veio na reta final de admissão das canções.
Do menos mal, foi mesmo ‘cair’ o certame quando todas as canções foram escolhidas, e nisso
foi certa a decisão da EBU, esperando pela revelação da última canção.

A decisão certamente difícil de cancelar um espetáculo desta envergadura, não foi menos
acompanhada de outros cancelamentos, como no mundo do desporto. Mas se para alguns
eventos tudo fica adiado e a competição se mantém praticamente onde tenha parado, na
Eurovisão isso não acontece. E possa-se gostar ou não, foi a decisão do grupo de referência não
transitar as canções para o ano seguinte e fazendo cumprir as regras vigentes.

41 canções de 2020 não serão elegíveis para competir. Seria uma primeira vez também, mas
neste caso nenhuma delas foi a primeira em que tal se sucedeu. Por diversos motivos outras em
anos anteriores foram escolhidas e ficaram pelo caminho sem nunca chegarem ao certame.
O que se seguiu? A EBU mostrou-se num primeiro momento sem ideias, remetendo para uma
homenagem aos artistas de 2020, que mais parecia um anúncio de homenagem póstuma. Como
se aquelas canções já tivessem morrido. Verdade que nunca chegaram ao palco do certame,
mas seria necessário mais.

Eis então que, também por influência do mundo da música com artistas a darem concertos em
casa, os próprios cantores visados, os fãs, as estações televisivas, as pré-parties etc. originaram
tão boas ideias e reinventaram tantas outras formas de celebrar o Festival Eurovisão da Canção.
E assim a EBU foi além do que parecia uma homenagem ‘morta’. Todas as semanas temos os
Eurovision Home Concerts. E no dia da Grande Final existirá um espetáculo de entretenimento
não competitivo Eurovision: Shine a Light. Tendo em conta os eventos comemorativos da
Eurovisão que a EBU já organizou no passado, não coloco grande expetativa neste show.

E para 2021? Nesta altura o futuro é ainda mais incerto, ainda assim não se pode parar, e
esperasse que regresse no próximo ano. Será mantido o país anfitrião. Já os representantes de
cada país, por muita discussão se possa ter, deverá se manter como em todos os anos, cada país
se organizar à sua maneira sem imposição.

Depois desta primeira vez a EBU irá certamente rever as regras do Festival da Eurovisão para
melhor resposta em outros cancelamentos. E esperasse que as faça cumprir, algo que nem
sempre faz. Acima de tudo que volte novamente em grande, unificador como na sua origem das
diferentes nações em torno da música. O Festival Eurovisão da Canção no esplendor da
diversidade que tal como antes nos traga muitos hits e grandes artistas e estrelas musicais que
sejam novas luzes do panorama musical mundial.

Sobre o autor

Bernardo Matias

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