Nascido em 1964 o então Grande Prémio TV da Canção Portuguesa, mais tarde passado a ser denominado e estabelecido desde 1971 com nome de Festival da Canção (FC), foi quase sempre o método de seleção da canção portuguesa para o Festival Eurovisão da Canção (ESC).
O início dá-se oito anos após o nascimento do ESC. Porém, a primeira participação não teve repercussão além-fronteiras e o mesmo nos anos seguintes. Nas décadas de 60 e 70 durante a ditadura do Estado Novo, o FC foi de alguma forma usado pelo sistema político para mostrar aos outros países que havia lugar para a cultura em Portugal e mais que isso uma «cultura livre». Claro que tudo tinha que passar pelo crivo da censura.
Sem embargo, talvez o facto mais marcante dos primeiros anos tenha sido A Desfolhada na voz de Simone de Oliveira em que «Quem faz um filho fá-lo por gosto» tem sido visto como ‘afronta’, mas o censor adormeceu ou bebeu demais e deixou passar. Aliás muitas foram as canções que tiveram em sua letra mensagens sublimes nas entrelinhas com críticas ao regime.
Esse regime ditatorial nunca teve interesse em ganhar o certame internacional, apenas marcando ponto, exceto em 1970 que em forma de protesto não participa nesse ano no ESC. Forçando a canções que mostrassem os costumes do país, os resultados com exceções de 1971 com Tonicha e 1972 com Carlos Mendes foram invariavelmente no fundo da tabela lá fora.
Contudo, num país cada vez mais atrasado em relação à Europa do pós-guerra e envolvido numa guerra colonial, teve nestes primeiros anos artistas, compositores, letristas etc. que iam ao festival para conseguir singrar, e muitos tiveram nesse FC a sua rampa de lançamento. O sucesso de muitos entre portas foi gigante e nisso o regime fazia questão que acontecesse e fê-lo com gosto. Enquanto o povo entretido cantarolava as canções, maioritariamente analfabético, não tinha outras canções ou poemas que cantar nem ler. Assim, nomes incontornáveis tal como canções desse tempo ficaram para sempre na memória coletiva do povo português.
A dimensão do FC foi tal que serviu de mote à Revolução de Abril, com a canção de 1974 E Depois do Adeus servisse de senha à revolução. Curiosamente canção que chegada ao palco do ESC fica em último em ex-acqueo com outras três. O regime cai, instaura-se a democracia e também a ele, ao FC que é espelho de história do povo luso é-lhe conferido outras dimensões, a descobrir na 2ª parte destes artigos da história do FC e de Portugal no ESC.
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